segunda-feira, 16 de maio de 2011

Romão e Joelita

Lá no sertão paraibano, houve uma grande história de amor entre a filha do coronel Marcolino, chamada Joelita, e o peão da fazenda, Romão.

Eles se apaixonaram perdidamente, fazendo com que,em todas as noites, Romão fosse visitar Joelita. Em uma das vezes ele diante a janela do quarto da moça disse:

_ Joelita, minha bichinha, minha flor de formosura do sertão, vem para os meus braços para a gente conhecer a natureza...

_ Romão, você de novo por aqui. Cuidado que painho está de olho em você... Não quero que você se arrisque por mim, meu amor.- disse com a voz melosa Joelita.

Depois de um beijo ardente, os dois trocaram juras de amor, foi quando Joelita disse:

_ Romão, como prova do meu amor, eu subi lá em cima da serra e coloquei em um pé de juazeiro um "RJ"...

_ Oxente, Joelita, pruquê você colocou o Rio de Janeiro lá?

_ Não, home de Deus, são as iniciais de nossos nomes...

_ Ah, sim... Agora, eu entendi.- disse Romão sorridente. E continuando as suas palavras disse:

_ Eu também tenho uma surpresa para você, pois quando fui lá na rua, tinha uma lojinha que tinha uma placa dizendo que marcava uma vida em uma pessoa. Então eu me aproximei de lá e era um loja de tatuagem. Aí, Joelita, o rapaz me disse que era moda agora os homens cabra-macho do sertão colocar o nome da amada nos pintos...Então, para mostrar todo o meu amor por você, eu enfrentei a dor até o último ponto final que ele fez da mensagem.

Neste momento, Joelita ficou com uma mistura de curiosidade, de espanto com aquilo tudo e falou:

_ Então, me mostra!

Romão, em um gesto intempestivo e orgulhoso com a sua ação, botou o bicho para fora.

_ Seu safado! Como você teve a coragem de fazer isso! Como é que você me trai com um outro homem...

_ Mas como meu amor? Outro homem? Que história é essa, Joelita?

_ Quem é esse JOEL que está escrito no seu pinto molinho?_ ela tava com muita raiva.

Romão começou rir:

_Eu te explico, daqui a cinco minutos, minha florzinha de mandacaru...

Quando Joelita começou a fazer as primeiras carícias em Romão, o documento do moço, que não era o RG, foi crescendo assustadoramente, igual aos preços dos combustíveis brasileiros, e em consequencia disso o nome JOEL foi se transformando em JOELITA, MEU GRANDE AMOR, MINHA VIDA, MINHA FLOR PERFUMADA, QUE AGORA EM DIANTE ESTARÁ SEMPRE PRESENTE NA LEMBRANÇA DESTE LOCAL. O letreiro foi se abrindo igual àquelas bandeiras gigantes de torcida organizada de futebol. Toda essa mensagem em uma só linha, diga de passagem. Pense num outdoor da gota serena!

Os dois naquela noite se amaram profundamente. Quando de repente um capataz do coronel pegou Romão com a filha dele. Romão, foi levado ao encontro do todo poderoso fazendeiro, que ao primeiro encontro de olhos e a par do assunto, disse:

_Cabra, safado, vamos capar este safado! Esta será sua condenação...

Os capangas pegaram a faca-peixeira, para realizar a ordem do Coronel, e perceberam que no pinto do rapaz tinha o nome de Joelita, fato comunicado ao todo poderoso, que ficou com mais ódio ainda, quando Romão disse:

_ Não, faça isso seu Coroné, pois como já dizia os ensinamentos dos mais véi se alguém passar a faca no nome de uma pessoa, ela morre durinha pouco tempo mais tarde...

O coronel refletiu e viu que o ensinamento realmente existia e para poupar a vida da filha determinou a suspensão do ato. Logo em seguida ele ordenou:

_ Então, cabra frouxo você terá que casar com Joelita, mas antes disso se não pode lhe capar, eu vou mandar arrancar a sua língua, como punição.

Romão, desesperado, chorando mais que goteira de telhado de pobre, argumentou:

_ Mas, coronel, eu num vou casar com sua filha, home, como é que vai ser na horinha do casório, quando o padre disser aquela resenha toda, como eu vou dar o "sim" sem língua, home de Deus...

_ É verdade, então suspende tudo e vamos logo providenciar o casório.

Tempos depois... Romão e Joelita se casaram, com direito a foguetões, bebidas e banquete.

Romão, com uma garrafa de cachaça na mão disse:

_ Toma um pouquinho, minha flor!- com a voz bêbeda de amor.

_Romão, isso demais é veneno, meu amor...

_ Mas, é um veneno tão bom...

Os dois se abraçaram e foram felizes lá para as bandas do sertão. Essa é uma estória que até mesmo Shakespeare e Ariano Suassuna pagariam caro para ler, pois "eu só sei que foi assim".


Marco Valério Gomes Batista Gonçalves.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma conversa entre amigos

Na semana passada, tive uma conversa com um amigo, lá em casa, chamado Lúcio Anneo Sêneca. Os mais próximos lhe chamam de Sêneca. Tal encontro só foi possível, pois abri o seu livro "Da tranquilidade da alma". Então, imaginei que estava a dialogar com esse grande pensador da Antiguidade.

_Senta aí, Sêneca! A casa é sua rapaz. - minha intenção com essas palavras era deixá-lo bem à vontade, para iniciarmos uma conversa.

_ Muito obrigado, Marco... - respondeu-me ele.

_ Sêneca, rapaz, me tire uma dúvida, o que você acha de as pessoas ultimamente falar tanta coisa e não fazerem o que falam? Uma total enganação...

_ Baseado em meus estudos, acredito ser melhor contemplar as próprias coisas e falar movido por elas, emitindo palavras adequadas aos fatos, de modo que, para onde quer que levem, o discurso siga esta espontaneidade.- falou-me ele com um ar de seriedade e contemplação.

_ Ah, meu nobre, quer dizer que em seus ensinamentos, você preza pela espontaneidade de nossas ações para evitar as preocupações do dia-a-dia?- pergunteio-o ansiosamente.

_Não me detendo em detalhes, atento para o fato de que, em minhas preocupações, sou acompanhado por certa timidez cheia de boas intenções. Temo me inclinar paulatinamente para elas ou, o que é mais preocupante, ficar sempre pendente e que talvez isso seja mais forte do que eu havia previsto. Isso porque as coisas costumeiras nos parecem familiares e sempre são julgadas de modo benevolente.

_ Pois é, Sêneca, rapaz, você falou bonito, concordo com tudo que você acabou de falar. Hoje em dia, para mim, a minha maior preocupação é ver que tem muita gente querendo ser o que não é, passando por cima dos outros a todo custo...

Sêneca, com seu semblante confiante me disse:

_ Penso que muitos poderiam ter chegado à sabedoria se não pensassem já serem sábios,se não tivessem dissimulado para si mesmo algumas coisas e se não tivessem passado por outras tantas com os olhos fechados.

_ Com relação, aos muitos e muitos seres do mundo que estão sofrendo neste momento, por várias causas distintas, Sêneca, qual seria a sua mensagem?

Após um suspiro intenso, ele disse:

_ Considera que os prisioneiros apenas no princípio se afligem com as algemas e os grilhões que impedem seus passos. Porém, quando resolvem não mais irritarem e se propõem a suportá-los, a necessidade lhes ensina a levá-los com fortaleza, e o costume, com facilidade. De fato, em qualquer gênero de vida, encontrarás distrações, compensações e deleites, desde que queiras avaliar com leves os teus males, em lugar de fazê-los insuportáveis.

_ Para encerrar a nossa conversa, me diz amigo Sêneca, uma mensagem final para que eu possa refletir nesta semana?

Ele me respondeu:

_ Lançando mão de uma imagem que expresse o que sinto, digo que não me cansa a tempestade, mas, sim, a náusea. Portanto, afasta o que quer que seja este mal e socorre ao náufrago que já avista a terra.

_ Valeu, Sêneca!- despedi-me dele, emocionado com tanta sabedoria.

Após a nossa conversa, pus de volta o livro do amigo na estante. Os seus escritos aqui colocados até pareciam que estavam falando comigo, pois seus ensinamentos são lições para toda uma vida...

Marco Valério Gomes Batista Gonçalves.

Fonte: Sêneca, L. A. Da tranquilidade da alma, L&PM Editores, 2009.