domingo, 26 de junho de 2011

Na cura, no soerguimento e até que a morte nos separe

Olho os telejornais, as revistas e afins, na atualidade, percebendo um tufão de reportagens desqualificando a figura do médico e de outros profissionais da saúde, após se iniciar a nível nacional uma mobilização geral, para melhores condições de trabalho e de valorização em nossas profissões.

Apesar de todo este turbilhão de notícias ruins, nesta semana, deparei-me com três fatos que me fizeram feliz, três histórias de pacientes.

Encontrei uma pessoa querida próxima de minha família, no início da semana, a qual obteve a cura de sua doença e foi tratada também por mim. Ela disse palavras lindas de agradecimento. Sou sincero fiquei bastante feliz com aquele momento e por sua cura.

Os dois outros fatos que me elevaram o meu estado de luz de alegria ocorreram ontem.

Um deles ocorreu por telefone, em que a esposa de um paciente, que tinha hanseníase e estava com um problema de circulação por uma obstrução arterial em coxa direita, por tabagismo crônico, ligou-me para dizer que foi realizada a cirurgia de revascularização do membro e o mesmo já estava andando, com a cicatrização da ferida operatória e com a volta do aquecimento da perna.

Nesse último caso, apenas facilitei os encaminhamentos para dar destino e solução para aquela situação e consegui. A alegria me invadiu o coração com o soerguimento de um paciente ao voltar a andar.

O outro fato foi o seguinte: estávamos eu e minha mãe em um restaurante, quando ouvi de duas pessoas um chamado por “Dr. Marco Valério”, virei-me e notava que eram semblantes que eu já tinha visto, mas que não me chegava à memória naquele instante. Então, conversando um pouco mais, veio à mente a história do paciente que tinha acompanhado há uns quatro anos, ainda no hospital universitário Lauro Wanderley.

Eram duas mulheres, a esposa do paciente e uma amiga, que com sorrisos nos rostos vieram falar comigo, como também agradecer do período que o seu ente esteve em minhas mãos e que diagnosticamos que o motivo da paraplegia do mesmo era um tumor pulmonar com metástase para coluna.

Essa última situação me chamou certa atenção, primeiro pelo tempo passado, e, segundo, que mesmo com a morte inevitável do paciente, ainda ficou naquela família o senso de gratidão pelo trabalho com afinco feito por um humilde funcionário, um reconhecimento feito mesmo com a morte daquele paciente querido que nos separou, mas que restou na lembrança dos que ficaram a gratidão, repito mais uma vez, a gratidão.

Encontro forças na minha profissão, também, através de orações e pensamentos positivos de vários pacientes e seus familiares espalhados pelo Brasil. Toda uma energia que nos chega com altivez e esperança, apesar de não ser uma mensagem ouvida, mas tenham certeza é uma mensagem sentida.

Contando os fatos, lembro-me de uma frase do músico Charlie Parker, que dizia: “Se você não viver o jazz, ele não sai do seu instrumento musical.”.
Aproveitando, a deixa de Charlie, concluo: “Se a gente não viver a Medicina, ela não sairá de nossa alma, na cura, no soerguimento e após a morte que nos separa.”.

Marco Valério Gomes Batista Gonçalves (25/06/2011)

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