É uma forma de erotismo extremamente mórbida. O indivíduo é levado por uma ideia fixa de amor e tudo nele gira em torno desta paixão, que domina e avassala os seus instantes. É hipérbole de amor platônico.
Ball define como um amor etéreo, ideal, puríssimo, absolutamente isento de qualquer desejo carnal, e o amante adora excessivamente a alma da mulher, distinguindo duas formas de erotômanos: uns tímidos e discretos; outros inoportunos e intransigentes.
A paixão surge apenas de um olhar, de um aceno, de um simples trejeito, vivendo de sonhos, guardando para si o segredo e a grandeza desse amor.
Um exemplo típico da erotomania nos é dado por Miguel de Cervantes de Saavedra, na figura do seu valente e engenhoso fidalgo de la Mancha - o Don Quixote, apaixonado perdidamente pela rústica e grosseira Dulcineia de Toboso, transformada pelos seus pobres olhos na mais linda e venturosa princesa. E o valoroso Cavaleiro da Triste Figura viveu toda a sua existência nessa paixão pura e desinteressada.
Outro caso de erotomania é o de um poeta de Pernambuco, descrito por Viveiros de Castro (in Atentados ao Pudor, Rio de Janeiro: Livraria Editora Freitas Bastos, 1943), que descreve um moço de talento, de regular instrução, poeta de fulgurante imaginação, chegando a receber a reverência da crônica de sua terra. Depois de alguns excessos de alcoolismo e onanismo, ficou convencido de que uma americana, muito linda e rica, o amava perdidamente. Falava dessa beleza e desse amor de uma forma pura e inocente, porém nunca se viu essa americana.
Segundo Esquirol, o erotômano é aquela pessoa de olhar vivo e apaixonado, que se esquece de si mesmo, dedicando-se ao objeto de seu amor um culto superior, secreto, sofrível e servil, contemplando uma perfeição, geralmente imaginável. Ele evita censuras, expõe-se ao ridículo público, tudo por um amor sedento e uma paixão incontrolável.
Esse relato é encontrado no livro do doutor Genival Veloso de França (Medicina Legal), o qual é rico pela grandeza de sua explicação, utilizando-se de uma linguagem poética para explicar com maestria esse transtorno da sexualidade, que já serviu para muitos e muitos escritores como forma de inspiração.
França, G. V. Medicina Legal- 8. ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
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