sábado, 30 de abril de 2011

Quem nunca falou um "palavrão"?

É difícil alguém que durante a sua vida não passe por uma situação, em que temos a necessidade de manifestar a nossa raiva, a nossa indignação, através de algumas palavrinhas que terminaram recebendo o aumentativo e designadas de "palavrões'. A nossa língua nos presenteou com o "palavrão", ou melhor, não só a nossa língua, mas todas as outras para deliberar uma contrariedade intensa com relação à situação do nosso país, às condições de trabalho, aos desencontros amorosos...

Quem nunca disse um palavrão? Algumas pessoas já soltaram palavrões contidos, outros deliberados. Mas existem palavrões contidos? Bem, não sei se existem, porém inventei essa classificação agora, para classificar as pessoas que dizem raramente um palavrão, sem muita exposição pública, das pessoas que os disparam sem nenhum constrangimento em qualquer lugar.

Essa introdução (por favor, caros leitores, não coloquem malícia nessa palavra agora) é para mostrar que o palavrão faz parte de nossa língua, da nossa cultura e do nosso dia-a-dia, por isso, por mais que apredamos que falá-lo é feio, renegá-lo é fechar os olhos para nossa própria consciência.

Na revista Língua Portuguesa, de abril deste ano, editora Segmento, deparo-me com uma matéria "Palavrões e afins", que mostra a diversidade de tais palavras. Imaginem só que enquanto os idiomas inglês, italiano, francês, alemão, espanhol têm 9 mil expressões chulas em cada uma delas, nós falantes do português só dispomos de 3 mil obscenidades.

É de Mário Souto Maior o Dicionário do Palavrão e Termos afins, um dos 508 livros proibidos no Brasil após o ano de 64. Ele concluiu que o homem, o jovem e o pobre falam mais palavrões do que a mulher, o velho e o rico.

Segundo a matéria, mães e filhos são muito invocados nos palavrões. Só perdem para os maridos enganados. O primeiro livro sobre as gírias da língua portuguesa é Infermidade da Língua, de Manuel Joseph Paiva, publicado no século XVIII.

Abaixo, vou transcrever um trechinho da matéria:

"... a expressão "abrir as pernas" tinha no comércio o significado de ceder, como no sexo. Xibio, originalmente um diamante, consolidou-se para designar a vagina, que em latim era a bainha onde o soldado guardava a espada. Hoje, "espada" designa também o homem heterossexual. Aliás, é pretensão masculina designar seu orgão sexual a partir do latim caraculum, que quer dizer estaca, mas o marinheiro Cabral que avistou o Brasil estava na casa do caraculum, "na casa da estaca", na gávea, um lugar de castigo, sujeito ao frio, sol, chuva, tempestade!"

É, meus amigos, os palavrões estão soltos por aí. Afinal, quem nunca falou um "palavrão"? Ou vocês acham que em algum momento do casamento real do príncipe William com a bela Kate, na Inglaterra, naquela festança toda, no primeiro contra-tempo, que porventura ocorreu, não houve alguém que disparou um palavrãozinho?


Marco Valério Gomes Batista Gonçalves.


Fonte: Revista Língua Portuguesa, editora Segmento, abril, 2011.

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