domingo, 13 de novembro de 2011

Um jovem chamado Diploma




No passeio vespertino dominical, em que antecedia a ida dos irmãos Experiência da Vida e o jovem Diploma até a igreja, onde ocorreria mais uma celebração da santa missa, ocorreu algo meramente reflexivo, pois o Diploma começou a reclamar do vestido de chita da irmã sexagenária.



Ele achava que a irmã não deveria estar com aquelas vestes coloridas, pois havia um contraste evidente entre os dois, já que o mesmo mantinha no corpo um jaleco de linho branco, enfeitado com um estetoscópio dourado; no dedo anular esquerdo, o brilho da esmeralda reluzia. A irmã humilde como era, respondeu que aquelas vestes brancas de requinte do irmão só foram possíveis graças ao trabalho árduo do reumatismo das articulações dela, lavando as roupas de outras famílias, para ajudar no custeio durante a vida acadêmica do irmão até a sua formatura.

O jovem, aborrecido com as provocações da senhora Experiência da Vida, chamou-a de mulher desvairada, e disse que enquanto ele tinha um futuro promissor pelo casamento com a Medicina, ela tinha a sua vida perdida, pois se entregara ao Mundo. Aquela senhora o fitou os olhos e lhe falou que ele não passava mais do que um papel, uma criação do povo do Oriente, que também inventou a bússola e a pólvora: a primeira lhe ausentava no seu íntimo, pela falta de orientação; a segunda abundava no seu semblante, pela cólera de explosão evidente.

O clima estava tenso, quando iniciou a celebração cristã. Ao passar das horas de mãos dadas em orações, os irmãos ali presentes, individualmente, meditavam.

Então, entre o silêncio das orações e a harmonia dos cânticos, o Diploma percebeu que de nada vale o seu nome, se não existir em sua pessoa as qualidades da moral, da ética profissional, da ajuda aos humildes, do reconhecimento dos esforços familiares, da gratidão aos mestres, da memória da sua universidade, das bênçãos de Deus e da felicidade de verdadeiras amizades.

Depois do ocorrido, o Diploma passou a olhar a irmã com valorização, ternura, sentimento, carinho, estando pronto para acompanhar a doença da mana, e reconheceu que apesar de sua existência material abrir muitas oportunidades na vida, ele só era respeitável e válido, porque junto consigo levava as lições da senhora Experiência da Vida, que lhe orientou com o espírito da solidariedade.

Terminada a celebração, ambos se dirigiram para suas respectivas casas. O jovem Diploma dobrou à direita para repousar na rua das gavetas, a senhora idosa de nome tão expressivo seguiu em frente e continua acordada na avenida de nossas mentes.

Tanta briga, para demonstrar um desfecho com tantas emoções. E não se esquecendo que desse laço todo de família, existe uma grande amizade entre os concunhados Medicina e Mundo de mais de vinte e cinco séculos: o Mundo ensinando à Medicina a nunca desistir nos problemas da vida e a Medicina ajudando o Mundo, para um mundo melhor.

Marco Valério Gomes Batista Gonçalves.


Este artigo foi publicado no jornal do CRM-PB no ano de 2004 no site:











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