terça-feira, 29 de maio de 2012

Poesia do poeta desempregado



Seguro a caneta que encontro

Na mesa coberta pelo papel,

Correm letras tolas de desencontro,

Nas linhas tortas com muito fel.



A minha raiva tem explicação:

Deus com toda Sua sabedoria,

Presenteou-me com uma profissão:

Ser poeta; doar mágoa e alegria.



Eis aí, então, a minha decepção.

As pessoas ao verem uma poesia, 

Não prestam a devida atenção

Na arte que mexe com a fantasia.



Por isso, peço a minha demissão.

Agora no meio da rua da amargura,

Alguém pergunta minha profissão,

Sou um ex-poeta da Literatura.



Sou um desempregado desta vida.

O meu salário era apenas ilusão.

Então, exijo a medida precavida

De tornar em lei a minha profissão.



Peço a Deus saúde e muita fé, 

Para conquistar a minha intenção

De ser o poeta, se Deus quiser, 

Reconhecido na Constituição.


Marco Valério




(Esta poesia foi publicada originalmente no Jornal Tribuna Literária, anos depois a profissão de poeta foi regularizada pelo Congresso Brasileiro, a lei de número 12. 198)

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