domingo, 11 de novembro de 2012

As dificuldades mostram o ser


Dando continuidade as minhas histórias médicas, vou-me reportar ao passado, no tempo em que fazia minha residência médica de Ecocardiografia no Hospital das Clínicas (UFPE).

Estava fazendo os exames ecocardiográficos dos pacientes ambulatoriais, quando me deparei com uma senhora que havia feito uma cirurgia de câncer de mama. Ela estava um pouco cansada. Até tudo aí tudo bem, mas quando coloquei o transdutor da máquina em seu tórax, via-me diante uma das emergências cardiológicas: o tamponamento cardíaco, que é o acúmulo de líquido patológico no saco que envolve o coração, comprimindo as câmaras cardíacas, impedindo a passagem normal do sangue, que correm das veias para o coração e deste para o resto do corpo, assim o paciente fica com a pressão baixa e com frequencia cardíaca acelerada, cansaço, as veias do pescoço túrgidas, etc.

Fiz o comunicado a preceptora responsável e daí por diante, começamos agilizar a vaga na UTI, comunicação ao cirurgião-torácico, para realização de um procedimento que visa passar uma agulha entre o osso esternal e a costela esquerda até o saco pericárdio para descomprimir as câmaras cardíacas (Observe na figura acima, as setas representam a compressão pelo líquido que deve ser drenado. AE=átrio esquerdo; AD= átrio direito; VE= ventrículo esquerdo; VD= ventrículo direito; Ao= aorta). E aquele acúmulo de líquido provavelmente seria pelo câncer da mama, por uma possível metástase.

O procedimento foi feito com sucesso. O tempo era precioso naquele momento... E deu tudo certo...

Terminado o expediente, já estava noitinha, dirigia-me até meu carro no estacionamento do HC. Ao caminhar espalhava com os pés algumas folhas de árvore de lá. E na mente, a sensação do dever cumprido, bem como, eu ouvia uma voz oculta que me dizia:

_Parabéns por ter propiciado junto com seus colegas a celebração da vida desta paciente!

E, eu sorri e fui pra casa feliz, pois descobri que  nas dificuldades  mostramos quem verdadeiramente somos e para que viemos...


Marco Valério

P.S.: A paciente continuou internada no hospital e foi iniciada uma investigação mais apurada e promovida a sua estabilização clínica.


Obs.: Utilizei no texto acima uma linguagem mais popular para que o público que não seja da área de saúde compreenda a doença em si, mas o mais importante de tudo isso foi a mensagem final. Grato!!


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