Escrever é uma atividade que se manifesta em gêneros particulares de textos, isto é, os textos não têm a mesma cara. Não têm o mesmo esquema de sequenciação, o mesmo conjunto de partes ou a mesma forma de distribuição dessas partes.
Uma carta, um requerimento, uma ata, uma declaração, um comentário, uma notícia, um aviso, por exemplo, não começam do mesmo modelo. Há esquemas típicos para cada um desses gêneros; uns mais flexíveis, outros mais rígidos. Por vezes, a criatividade do autor se expressa. exatamente, pela quebra desses esquemas típicos. o que, normalmente, acontece, sobretudo no âmbito da produção literária.
A verdade é que, fora da linguagem com função poética, não é usual que criemos nosso próprio modelo de texto. Como em outros domínios sociais, sujeitamo-nos aos esquemas convencionais, definidos institucionalmente e legitimados pela sua própria recorrência. Saber usá-los constitui uma exigência do mundo letrado em que circulamos; certamente, essa é a verdadeira competência que cabe à escola desenvolver.
Daí, a conveniência de se providenciar a entrada na escola de gêneros textuais diferentes, levando em consideração aqueles que, de fato, aparecem socialmente. Acabar-se-ia, assim, com aquela prática amorfa de escrever textos que parecem não pertencer a nenhum gênero reconhecível.
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário